domingo, 18 de maio de 2008

Esses nossos experientes queridos.

Pais heróis e mães rainhas do lar.
Passamos boa parte da nossa existência cultivando estes esteriótipos, até que um dia, o pai herói começa a passar o tempo todo sentado, resmunga baixinho e puxa uns assuntos sem pé e nem cabeça. A rainha do lar começa a ter dificuldade de concluir algumas frases e dá para implicar com a empregada.
O que papai e mamãe fizeram para caducar de uma hora para outra?
Fizeram 80 anos.
Nossos pais envelhecem.
Ninguém havia nos preparado para isso.
Um belo dia eles perdem o garbo, ficam mais vulneráveis e adquirem umas manias bobas. Estão cansados de cuidar dos outros e de servir de exemplo: agora chegou a vez deles serem cuidados e mimados por nós, nem que para isso, recorram a uma chantagenzinha emocional.Têm muita quilometragem rodada e sabem de tudo e o que não sabem inventam. Não fazem mais planos a longo prazo, agora dedicam-se a pequenas aventuras. Como comer escondido tudo o que o médico proibiu. Estão com manchas na pele. Ficam tristes de repente, mas não estão caducos: caducos ficam os filhos que relutam em aceitar o ciclo da vida. É complicado aceitarmos que nossos heróis e rainhas já não estão mais no controle da situação. Estão frágeis e um pouco esquecidos, têm esse direito. Seguimos exigindo deles a energia de uma usina. Não admitimos suas fraquezas e nem seu desânimo. Ficamos irritados se eles se atrapalham com o celular e ainda temos a cara de pau de corrigí-los quando usam expressões em desuso: calça de brim? Frege? Auto de praça? Em vez de aceitarmos com serenidade o fato de que as pessoas adotam um ritmo mais lento com o passar dos anos, simplesmente ficamos irritados por eles terem traído nossa confiança, a nossa confiança de que seriam indestrutíveis como os super heróis. Provocam discussões inúteis e o enervamos com a nossa insistência para que tudo siga como sempre foi. Essa nossa intolerância só pode ser medo. Medo de perdê-los , e medo de perdermos a nós mesmos, medo de também deixarmos de ser lúcidos e joviais. É uma enrascada essa tal de passagem de tempo. Nos ensinam a tirar proveito de cada etapa da vida, mas é difícil aceitar as etapas dos outros, ainda mais quando os outros são PAPAI E MAMÃE, NOSSOS ALICERCES, aqueles para que sempre podíamos voltar e que agora estão dando sinais de que um dia irão partir sem nós.
Por favor, ame-os inteiramente, aceitando-os e respeitando-os neste momento de suas vidas.

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